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O estilo que eu trabalho

Quando comecei a decorar casamentos achei que o que eu queria era passear entre os estilos vintage, shabby, talvez até o provençal. Achei que os meus maiores concorrentes seriam os profissionais que trabalham com esses estilos. Aos poucos fui descobrindo que não era bem isso que eu queria fazer ou o que fazia melhor. E hoje, quase 4 anos depois, eu simplesmente não consigo me lembrar por que cargas d’água pensei que isso fosse pra mim. Não tem absolutamente nada a ver com quem eu sou, honestamente. Não são os estilos que mais me atraem, não estão na decoração da minha casa – que é o melhor espelho que uma pessoa pode ter de si – e posso afirmar que aparecem bem pouco nas minhas festas. Tanto que, em um dado momento, noivas que querem casamentos cheios de rendas, pérolas, lustres de cristal, bordados e tons pastéis simplesmente foram deixando de me procurar. E isso aconteceu naturalmente, sem dor pra mim ou pra elas. Noivas que sonham com esse tipo de decoração? Não, elas quase nunca me procuram. De alguma maneira, essas noivas conseguem entender que nós não fomos feitas uma pra outra. E não tem nada de errado nisso. Elas querem algo que não conseguem ver em mim e procuram a ajuda em alguém que tenha o que elas precisam. Não estão erradas! É normal e é assim que deve ser. Já a noiva que quer misturar uma Bergère transparente com mesas de madeira de demolição, essa me vê como a decoradora dela.
Hoje, quando paro pra pensar nas noivas que já casei e nas que ainda estou pra casar, vejo que todas, mesmo as que acham que não, são mulheres mais descoladas, que não estão nem aí pra seguir uma paleta de cores cuidadosamente estudada, onde a cor Pantone do laço de fita do bem casado precisa ser exatamente o mesmo tom do bordado do guardanapo. Isso se elas tiverem bem casados. Porque as minhas noivas são completamente capazes de simplesmente não tê-los, porque são desprendidas dos “tem que ter” das festas de casamento. As minhas noivas querem uma decoração bonita, mas não estão nem um pouco preocupadas em seguir padrões ou um estilo específico. As minhas noivas não são ton sur ton. As minhas noivas topam substituir o linho dos caminhos de mesa por azulejos hidráulicos, o floral das almofadas por chevron, os pufes pelas camas de dossel e as lanternas de vela por samambaias aéreas. Minhas noivas são totalmente capazes de misturar 8 estampas diferentes sem medo, só pra ver no que vai dar. Minhas noivas são mulheres ousadas e eu ADORO isso nelas!

Foto: Leonardo Uzeda
A ousadia delas me ajudou a entender que o estilo que eu tinha pensado pro meu trabalho lá no início de tudo, não era o melhor pra mim, simplesmente porque não era o meu. Era apenas um rótulo que pensei precisar colar em mim pra me posicionar no mercado. Achava que precisava ser vista como “decoradora de estilo tal”, ter algum padrão onde eu pudesse me encaixar pra facilitar o encontro com noivas que buscavam o que eu achava que tinha pra oferecer. Demorei, mas entendi que a questão é: as minhas noivas não estão preocupadas em me definir. Elas trabalham comigo pela nossa empatia, pela afinidade, pela confiança que sentem no meu trabalho, e não por um estilo pré-definido que ela acha que eu faço bem.
Para uma pessoa que quer ser livre, não existe nada mais sacal do que ter que se encaixar. Nada. Se eu jamais, durante toda a minha vida, fiz questão de me encaixar em padrões, por que teria que fazer isso agora, com o trabalho que é um sonho? Por que é que o meu trabalho, a coisa que ocupa mais tempo da minha vida e que por isso eu exijo que me faça feliz, precisa ser padronizado? Por que é que eu preciso encaixá-lo dentro de um dos estilos conhecidos há décadas, quando acho muito mais interessante ser o ponto fora da curva? Tentei, não gostei e desisti.

Foto: Aline Machado

O estilo que uma noiva quer ver quando me contrata não tem nome conhecido. Ela me contrata pela tradução que eu faço dela, pela quantidade de mim mesma que acrescento em cada projeto e pela curiosidade de saber no que isso vai dar. O que a atrai é saber que, seja qual for o resultado, ele sempre será único, particular, jamais repetido ou produzido em escala. Porque o resultado da soma do que eu sou com o que ela é sempre será único. Não tem como definir antes de estar feito. É pessoal, é intransferível. A mistura de nós duas é o que vai diferenciar a decoração dela de tantas outras incríveis que vemos por aí todos os dias. Pode até ser um padrão, mas é o nosso padrão pessoal. É a nossa marca.

Então hoje eu percebo que, sim, talvez haja um estilo no qual as minhas noivas (e ex-noivas!) acham que eu me encaixo bem: no meu. É com esse estilo que elas se identificam. Foi esse estilo que elas me ajudaram a perceber e a moldar, e é por isso que eu sou grata à elas todos os dias. Porque elas são extraordinárias!

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